quarta-feira, 25 de agosto de 2010

"Esta janela dá para a alma? - perguntei.
Quando ela se viu novamente nas estradas, sentiu-se mais só que jamais havia estado. Ruas e mais ruas desmaiavam sobre as calçadas, adoecendo a cidade inteira. Tudo parecia triste, desde os grandes esforços para aquereciar os passos até o pescoço quebrado de tanto voltar a cabeça para o passado. Era preciso ir em frente. Embora o corpo estivesse apagado, a alma estava muito mais acesa do que o seu aspecto poderia sugerir. Caminhava devagar, despedindo-se de cada tristeza, cada solidão, perguntando se seria capaz de dar adeus às dores que havia carregado até ali. Dali pra frente, ela cresceria como um broto protegido do inverno, que esperava secretamente a chegada da primavera para florir. Não precisava mais viver como um leão enjaulado, caminhando sobre as duas patas traseiras e sufocando gemidos debaixo da pele acolchoada, como se temesse rugir e algum domador escutasse. E nem viver do som hipnótico que tinha a flauta mágica do encantador de serpentes, que a fazia se rastejar como cobra indiana domesticada num cesto de um pátio ashram. Ela não soube dizer se a aparição do que tem fome de olhar esclareceu ou confundiu ainda mais as coisas. Mas, duvidei por um instante que a presença dele em sua vida fosse obra do acaso.
Viver é um susto. Mas você pode fazer dele um suspiro, quando encontra a direção. Pensava naquele homem como feitiço. Mas foi só até descobrir que ele era uma maldição."


a que me traduz, Pipa.

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