(…)
não quero ser triste
como o poeta que envelhece lendo mayakovski
na loja de conveniência
não quero ser alegre
como o cão que sai a passear com o seu dono
alegre sob o sol de domingo
nem quero ser estanque
como quem constrói estradas
e não anda
quero no escuro
como um cego tatear
estrelas distraídas
(…)
...quero tudo e tanto, tanto.
quero seguir vivendo e sentindo desse jeito do avesso que me dá tanto prazer e que dói de vez em quando.
quero ir em frente com meus passos coloridos, fora do ritmo, tão meus. colher flores coloridas pelo caminho, abrir os braços para as garoas e as tempestades, dançar rodopiando as saias floridas e sujando os pés no barro úmido do sereno da noite.
quero abraçar e ser abraçada, quero beijar e ser beijada, quero acolher e ser acolhida,
quero a vida em boa companhia.
quero dizer o que penso, mesmo que não faça sentido.
quero rir do meu próprio ridículo, não ter medo de quebrar a cara, ver poesia nos pequenos detalhes onde ninguém mais vê a não ser a sem-gracice cotidiana.
quero ser o que sempre fui e todos os dias desejo continuar sendo, uma menina de cabelos bagunçados e sorriso fácil.
e quero ser mulher que acorda todos os dias olhando pra trás e saboreando o tempo que passa.
quero deixar meus cabelos crescerem e cortar tudo de uma vez, quero me olhar no espelho e me ver camaleoa.
quero que o amanhã seja sempre tudo novo de novo, quero a dúvida e a pureza do que não se sabe.
quero presente, quero instante.
quero aceitar algumas coisas em mim, e mudar outras, quero a inteireza da vida à flor da pele."
Zeca Baleiro
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