'Uma vez, quando eu tinha quatro anos,
achei um caco de vidro no monturo.
Lavei, enxuguei, guardei bem guardado
e fui comer com vontade, ficar obediente,
emprestar minhas coisas, por causa do caco,
porque tinha ele,
porque eu podia quando quisesse
porque eu podia quando quisesse
pôr ele contra o sol e aproveitar seu reflexo'
[Adélia Prado]
'Mesmo quando tudo desaba você fica azul por dentro. Com um riso secreto. Porque existem coisas que ninguém pode tirar de você. Foi dai que depois de ler Adélia fiquei pensando em como tem gente que é caco de vidro. Que te dá alegria e beleza e você não se desespera. Ele é meu caco de vidro sim.
Ele é o meu moço. Porque tem um quê de menino com cara de arte. E uma braveza de pai tomando conta da gente. Ele é o meu moço. Mesmo sabendo dos seus anos de vida. Mesmo tomando a minha mão no escuro. Mesmo pagando suas contas.
Eu vou meio cega e me doando inteira junto com ele pra onde quiser. Acreditando. Sim, porque ele me faz acreditar quando o olho de perto que a cor da esperança é verde mesmo. E de perto consigo enxergar a cor do seu amor. É azul. O amor dele é azul. Bem coisa de menino que tem a vida-inteira-feliz pela frente. Mesmo o pra trás não sendo tão feliz assim. Mas nem sempre é mesmo.
De uma coisa tenho certeza: que ele vai ser menino pra sempre. O meu. Mesmo quando tudo for branco. Até quando tudo for cinza. Na chuva. No sol. Em mim. Porque só ele tem todas as cores no sorriso. Só ele tem o jeito de me levar pra lugares tão próximos e me fazer sentir nunca ter estado lá. Ele tem tanta alegria pra me dar... e às vezes eu preciso tanto!
Um desejo de ser sempre assim, moço-menino para sempre. O meu e o dele. Porque é bonito ver essa parte que não adultece. Esse espaço onde moro sem pedir. É segredo meu. É tesouro meu. E mora no meu coração. Mas não é em qualquer lugar. Não. É um lugar lindo. Colorido e ventilado. Que se perdeu por lá. E não vai sair nunca mais.
É'
Vanessa Leonardi
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